Jack Kerouac e fim de viagem
Fim de viagem, primeiros dias em casa. Roupa lavada, supermercado, fotos sendo colocadas no blog, ida rápida à praia em Malmö, aproveitando o dia de sol, lendo, ouvindo música, mandando emails e, felizmente, corrigindo (espero) um mal entendido tecnológico.
Fim de viagem, primeiro dia em casa. Janto um tomate, um pimentão e uma banana (sim, é uma tentativa boboca de emagrecer), e tomo uma cerveja (pô, tenho direito) lendo a edicão de domingo do “the observer”.
O jornal informa que será lancado (na Inglaterra) uma edicão sem cortes de “On the road”, de Jack Kerouac, e fala em duas páginas sobre o livro, sua influência e seu autor. Mais, será lancado um filme sobre o livro, que inclusive será dirigido por Walter Salles.
Eu comecei a ler “On the road” no Brasil, mas parei nos primeiros capítulos. Não sei se porque o livro não me dizia muita coisa, ou por maior atracão por outras mídias que não a literatura.
Hoje, tendo acabado de fazer uma viagem por algumas cidades européias, ler um pouquinho sobre o livro e seu autor me fez refletir. Até que ponto a influência deste livro se faz presente em mim? Mesmo sem ter lido o livro, há algum tempo tive a certeza de que para me conhecer melhor era preciso viajar, cair na estrada, ir pra longe, o que é a essência do livro (dizem) e da geracão beat, que o livro definiu. O momento em que tive esta certeza foi durante minha ida ao Chile e Argentina em 2003, sozinho, sem passagem de volta comprada. Olhando pra trás, foi uma viagem importantíssima pra mim. Talvez por isso guarde um carinho tão especial pelo Chile, pela Argentina e por Santiago em particular.
Para Kerouac, “as únicas pessoas que o interessavam eram os loucos; os que são loucos por viver, loucos por falar; loucos por serem salvos, desejosos de tudo ao mesmo tempo; os que nunca bocejam ou dizem um lugar-comum, mas queimam, queimam, queimam, como uma explosão de fabulosas velas romanas; como aranhas entre as estrelas.” (traducão minha e livre de um extrato de “on the road”)
Há, no entanto, uma diferenca triste entre o que kerouac definiu e a experiência que minha geracão vive. Antes, jogar-se na estrada era uma aventura, um ato de desapego, uma revolucão pessoal. Hoje, é um ritual de consumo, um ritual de classe-média. Em algum momento era louvável perseguir um estilo de vida diferente, pessoal; hoje é ridículo, causa culpa, é sinal de imaturidade.
Eu, o mais influenciável dos seres, obviamente não estou imune à minha geracão. Ainda que excursões e pacotes de agências de turismo não me atraiam em nada; ainda que viaje muito sozinho; ainda que seja muito independente, é fácil eu perder o foco de uma viagem, abandonando completamente o lado de auto-conhecimento, de gozo, de maturacão pela estranho e diverso. É fácil ficar entregue a uma sucessão de lugares, de museus, de parques, automaticamente. Isso não é de todo mal, pois sempre ganho muito em conhecimento do mundo e em satisfacão pessoal, mas há algo filosoficamente errado se (quando) isto acontece.
Grandes viagens devem ter sempre momentos de abandono, de indefinicão e profunda espontaneidade. Tento passar um olhar crítico sobre as viagens que fiz neste ano (no fundo, sinto-em como se estivesse “em viagem” há quase um ano). Primeiro lembro de momentos perfeitos; shows vibrantes; porres homéricos; entardecer na praia; sol de meia-noite; neve lapônica; debates em cafés; aulas inspiradas; gente inesquecível... e fico feliz com eles.
Mas lembro também de todos os momentos em que estive melancólico; também muito triste; em que estive saudoso; em que sentei e tomei um café, desolado; em que discuti comigo mesmo ou com um amigo; em que pensei que estava perdendo tempo... e fico mais feliz com eles agora. Eles quase nunca estão no blog (porque são pessoais demais ou porque eu não saberia contá-los, mas só vivenciá-los), mas são parte imprescidível, inestimável, de minha viagem.
Mas, além desta análise sobre o que faco nas viagens, às vezes me questiono sobre as tantas viagens que faco, à prioridade que lhes concedo no uso do meu tempo livre. E alarmantemente vejo-me com culpa, sentindo-me menor, adoscelente ou mesmo pueril, chocantemente imaturo. Felizmente, quando estas sensacões me levam à pergunta seguinte, “o que devo fazer?”, não encontro resposta diversa de “exatamente o que estou fazendo”.
Irei ler a versão original de “On the road” e assistirei ao filme, mas independentemente disso, já sou grato ao livro e a sua influência em me proporcionar uma crítica que me fez relembrar e recompreender a importância de alguns momentos em particular, que eu estupidamente talvez tivesse preferido não ter vivido, assim como de meu “momento” como um todo, que prefiro continuar vivendo exatamente assim.
Que eu queime, queime, queime (não, não estou fumando). Mas, perdoe-me Kerouac, eu prefiro as palavras musicadas de Neil Young, que ouvi ao vivo no Rock in Rio:
“It’s better to burn out, than to fade away. My, my, hey, hey.”
Fim de viagem. Segundo dia em casa. Influencíável que sou, hoje peguei “Easy Rider” na biblioteca e acabei de assistí-lo.
Fim de viagem, primeiro dia em casa. Janto um tomate, um pimentão e uma banana (sim, é uma tentativa boboca de emagrecer), e tomo uma cerveja (pô, tenho direito) lendo a edicão de domingo do “the observer”.
O jornal informa que será lancado (na Inglaterra) uma edicão sem cortes de “On the road”, de Jack Kerouac, e fala em duas páginas sobre o livro, sua influência e seu autor. Mais, será lancado um filme sobre o livro, que inclusive será dirigido por Walter Salles.
Eu comecei a ler “On the road” no Brasil, mas parei nos primeiros capítulos. Não sei se porque o livro não me dizia muita coisa, ou por maior atracão por outras mídias que não a literatura.
Hoje, tendo acabado de fazer uma viagem por algumas cidades européias, ler um pouquinho sobre o livro e seu autor me fez refletir. Até que ponto a influência deste livro se faz presente em mim? Mesmo sem ter lido o livro, há algum tempo tive a certeza de que para me conhecer melhor era preciso viajar, cair na estrada, ir pra longe, o que é a essência do livro (dizem) e da geracão beat, que o livro definiu. O momento em que tive esta certeza foi durante minha ida ao Chile e Argentina em 2003, sozinho, sem passagem de volta comprada. Olhando pra trás, foi uma viagem importantíssima pra mim. Talvez por isso guarde um carinho tão especial pelo Chile, pela Argentina e por Santiago em particular.
Para Kerouac, “as únicas pessoas que o interessavam eram os loucos; os que são loucos por viver, loucos por falar; loucos por serem salvos, desejosos de tudo ao mesmo tempo; os que nunca bocejam ou dizem um lugar-comum, mas queimam, queimam, queimam, como uma explosão de fabulosas velas romanas; como aranhas entre as estrelas.” (traducão minha e livre de um extrato de “on the road”)
Há, no entanto, uma diferenca triste entre o que kerouac definiu e a experiência que minha geracão vive. Antes, jogar-se na estrada era uma aventura, um ato de desapego, uma revolucão pessoal. Hoje, é um ritual de consumo, um ritual de classe-média. Em algum momento era louvável perseguir um estilo de vida diferente, pessoal; hoje é ridículo, causa culpa, é sinal de imaturidade.
Eu, o mais influenciável dos seres, obviamente não estou imune à minha geracão. Ainda que excursões e pacotes de agências de turismo não me atraiam em nada; ainda que viaje muito sozinho; ainda que seja muito independente, é fácil eu perder o foco de uma viagem, abandonando completamente o lado de auto-conhecimento, de gozo, de maturacão pela estranho e diverso. É fácil ficar entregue a uma sucessão de lugares, de museus, de parques, automaticamente. Isso não é de todo mal, pois sempre ganho muito em conhecimento do mundo e em satisfacão pessoal, mas há algo filosoficamente errado se (quando) isto acontece.
Grandes viagens devem ter sempre momentos de abandono, de indefinicão e profunda espontaneidade. Tento passar um olhar crítico sobre as viagens que fiz neste ano (no fundo, sinto-em como se estivesse “em viagem” há quase um ano). Primeiro lembro de momentos perfeitos; shows vibrantes; porres homéricos; entardecer na praia; sol de meia-noite; neve lapônica; debates em cafés; aulas inspiradas; gente inesquecível... e fico feliz com eles.
Mas lembro também de todos os momentos em que estive melancólico; também muito triste; em que estive saudoso; em que sentei e tomei um café, desolado; em que discuti comigo mesmo ou com um amigo; em que pensei que estava perdendo tempo... e fico mais feliz com eles agora. Eles quase nunca estão no blog (porque são pessoais demais ou porque eu não saberia contá-los, mas só vivenciá-los), mas são parte imprescidível, inestimável, de minha viagem.
Mas, além desta análise sobre o que faco nas viagens, às vezes me questiono sobre as tantas viagens que faco, à prioridade que lhes concedo no uso do meu tempo livre. E alarmantemente vejo-me com culpa, sentindo-me menor, adoscelente ou mesmo pueril, chocantemente imaturo. Felizmente, quando estas sensacões me levam à pergunta seguinte, “o que devo fazer?”, não encontro resposta diversa de “exatamente o que estou fazendo”.
Irei ler a versão original de “On the road” e assistirei ao filme, mas independentemente disso, já sou grato ao livro e a sua influência em me proporcionar uma crítica que me fez relembrar e recompreender a importância de alguns momentos em particular, que eu estupidamente talvez tivesse preferido não ter vivido, assim como de meu “momento” como um todo, que prefiro continuar vivendo exatamente assim.
Que eu queime, queime, queime (não, não estou fumando). Mas, perdoe-me Kerouac, eu prefiro as palavras musicadas de Neil Young, que ouvi ao vivo no Rock in Rio:
“It’s better to burn out, than to fade away. My, my, hey, hey.”
Fim de viagem. Segundo dia em casa. Influencíável que sou, hoje peguei “Easy Rider” na biblioteca e acabei de assistí-lo.
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