terça-feira, maio 15, 2007

Sobre o envelhecimento

Estes dias pensei um pouco mais detidamente sobre o envelhecimento.

Acho que o que desencadeou esta “visão” foi o fato de ser nitidamente um dos mais velhos na viagem da Rússia. Lá, meus desejos eram relativamente diversos dos da maioria dos estudantes. Em Barcelona, no albergue, também percebi que estou um pouco acima da faixa etária dos hóspedes, quase todos muito jovens, muito descolados, muito assertivos.

Depois outro fato me chamou a atencão: uma frase de Alex Truner, que tem uns 21 anos de idade, vocalista do Artic Monkeys, na Uncut. Ele disse que, onde quer que estejamos, sempre lembramos de quando tínhamos dezessete anos. Eu tinha acabado de escrever o texto sobre a sensacão de estar sempre na BR-230 e achei que o que senti foi exatamente o que ele descreveu.

Eu gosto muito do Artic Monkeys. Mas olho pra foto deles e o que vem à mente é: “são só uns meninos.” Ainda é nova essa sensacão de sentir nitidamente que ouco, gosto e sou influenciado por uma banda de uma geracão posterior à minha. A infância e a adolescência deles foi outra. Quando eles nasceram, já tinha MTV na Inglaterra; o primeiro videogame foi o super nintendo (meu quarto console). Eles se tornaram adolescentes bem depois do grunge. Como é que esses “meninos” têm algo interessante a dizer pra mim? A questão vale tanto pro Artic Monkeys quanto pro Bloc Party.

Estou apenas um ano mais velho do que quando vim para a Europa, mas enquanto era dos mais jovens da turma de Brasília, sou dos mais velhos da turma de Lund. Não é que o envelhecimento me preocupe, até porque sinto estar exatamente onde queria estar, no momento em que queria estar. Trata-se apenas de que comeco a sentí-lo. Comeco a enxergar com mais nitidez esta passagem do tempo e de idades. Uma das coisas boas que isto traz é uma melhor percepcão da volatilidade das situacões. Tudo vai passar, o que não quer dizer que o presente seja menos importante, apenas que ele é só o presente.

A cada dia sinto-me mais preparado para o futuro, mais seguro, mais embasado. Ao mesmo tempo, tenho cada vez menos idéia de como será este futuro. Tenho menos certezas. Continúo perdido, cheio de vontades, desejos e aspiracões que não seguem nenhuma ordem ou hierarquia. Elejo prioridades hoje que não lembrarei amanhã. Mas estou mais confortável com esta desordem. Talvez ela seja menos um sinal de imaturidade. Talvez seja apenas eu, como serei sempre.

Não sei se “deve haver algum sentido em mim que basta,” mas por ora tudo bem. Envelhecimento é também auto-indulgência, benigna ou não.

E felizmente apareceram músicas de bandas de gente da minha idade, me dizendo coisas igualmente interessantes, como o LCD Sounsystem, que ouco sem parar agora.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Maravilhoso esse texto sobre a velhice. Confesso que partilho de parte dos seus sentimentos de vez em quando e olhe que já tou um pouquinho mais velho que vc.

Abraço.

11:43 PM  

Postar um comentário

<< Home