terça-feira, maio 15, 2007

Marinês e sua gente


Acabo por saber por um email do Brasil que morreu a cantora Marinês.

Honestamente, não lembro se cheguei a vê-la cantando ao vivo. Acho até que não, o que será sempre uma falha imperdoável no meu caráter, juntamente com nunca ter visto Chico Science. Tive oportunidade de vê-los, ambos em Campina Grande, e não os vi. Quando se trata de gente dessa importância, a falta de iniciativa de vê-los é para mim uma autêntica falha de caráter. Espero que ao menos tenha aprendido a licão!

Lembro que ainda na infância perguntei a minha mãe que tipo de música ela ouvia quando era pequena. A resposta foi "Marinês e sua gente", no rádio de pilha do meu avô, que ele ligava à noite, no alpendre da casa.

Morreu um dos últimos expoentes de um nordeste que celebrava uma cultura extremamente própria, com dignidade e beleza. Algo, no entanto, me deixa feliz. Ela ao menos recebeu o reconhecimento que merecia ainda em vida. Sei que foram muitas as homenagens que se prestaram a ela em Campina Grande nos últimos anos. Isso é pouco, mas é raro.

Reproduzo um pedaco do email que recebi, relatando o primeiro encontro dela com Luiz Gonzaga e a razão do nome do seu grupo, "Marinês e sua gente".

Gonzaga de saias - Com repertório afiado, zarparam na lapa do mundo, tocavam em bibocas, cinemas , circos, alugavam armazéns e iam disseminando o novo ritmo criado por Gonzaga. Este, por sua vez, ia tendo notícia aqui e alí de um trio que tocava suas músicas: "a moça é uma Gonzaga de Saias", diziam.

"O primeiro encontro, acontecido em 1955, é narrado por Marinês: "Foi quando eu fiz um show em Propriá (Sergipe) e Pedro Chaves, o prefeito na ocasião, apaixonado por Luiz Gonzaga, ofereceu um busto na praça. Eu e meu marido dissemos que tínhamos muita vontade de conhecê-lo pessoalmente. Ele, então, nos contrata para fazer um show justamente no dia que Gonzaga ia inaugurar a Praça. Ele nos botou num apartamento junto do apartamento do Gonzaga, porta com porta.

Quando chegamnos lá, Luiz Gonzaga já estava sabendo que tinha essa cangaceirinha, como ele me chamava, cantando as músicas dele. Quando o Pedro Chaves disse: a Marinês está aí. Ele bateu em nossa porta e disse: -Vocês são meus convidados para comer comigo na mesa. Eu tremia, nem comi direito, nervosa com o impacto da presença, uma coisa que eu sonhava. Almoçamos e ele disse: eu vou lhe ensinar a dançar xaxado porque eu estou precisando de uma rainha do xaxado. Tenho a princesinha do baião, que era Claudete. Aí ele foi dançar comigo", recorda.

Após a apresentação Gonzaga prometeu dar uma força à Patrulha de Choque, acenando com canais abertos em rádios e gravadoras. no Rio , onde morava. Em março de 1956 a trupe chegou no Rio e se hospedou na casa de Helena Gonzaga, madame baião, e do rei. Apadrinhados desde o encontro em Sergipe, Gonzaga saiu a apresentá-los nos programas na Rádio Mayrink Veiga - onde coroou em terras do Sul oficialmente a Rainha do Xaxado. Tocaram também nas rádios Nacional e Tupi.

Depois de divulgá-los, o cantor de Asa Branca destitue a Tropa e os incorpora à sua nova produção: "Luiz Gonzaga e Seus Cabras da Peste". Abdias ia pro agogô - só tocava sanfonaquando luiz dançava - Zito Borbortema no pandeiro, Marinês no triângulo e Miudinho na zabumba.

Neste ano Marinês registrava em disco sua voz pela priemira vez, na faixa Mané e Zabé, de Gonzaga. O novo grupo partiria para uma excursão à capital meneira para celebrar o aniversário de uma emissora associada. Na volta, ogrupo teve que enfrentar o ciúme de Helena Gonzaga que exigiu ao rei a dissolução do grupo.

No começo de 1957 Marinês se apresentou no programa Rancho Alegre , da rádio Tupi. Antes de entrarem em cena o apresentador Chacrinha apontou para cacau e Abdias e perguntou a cantora :

- Quem são esses aí ?
- É minha gente, explicou.

De bate-pronto o velho guerreiro anunciou: Marinês e sua gente. A partir de hoje você vai ser Marinês e sua gente."