quarta-feira, abril 25, 2007

Gaudí

Quem visita Barcelona se depara com Gaudí da mesma forma que quem visita Brasília se vê de frente com Oscar Niemeyer.

Gaudí foi fantástico. Acho que morar numa casa projetada por ele deve ter sido fascinante, apesar de um pouco assustador. Gastei uma pequena fortuna (uns 36 euros) para visitar algumas de suas obras principais: Casa Pedreira, Casa Batló e Sagrada Família. Felizmente, o Parque Guell era de graca.

O que minha garganta sentiu? O que ela me deixou sentir?

Na Casa Pedreira, ela sentiu-se orgulhosa de estar lá, apesar da dor. Minha garganta de turista sertanejo é forte: dói, mas sai de casa. Nesse dia, a garganta era a senhora do mundo. Qualquer pensamento meu passava por ela, ditadora, marcial, inflexível.

Na Sagrada Família, ela esqueceu que era uma garganta inflamada. Permitiu que eu subisse e descesse nas torres, abrisse grandes sorrisos de deslumbramento. Acho que ela ficou maravilhada como aquela coisa gigantesca, megalomaníaca, loucura-religiosa-surreal-inacabada-inexplicável.

No Parque Guell: a garganta tava cansada de doer. Sentamos (eu e garganta) na grama, lanchamos no parque, tomamos um pouco de sol, continuamos admirando Gaudí e nos aproximando de um acordo. Nossa briga estava acabando. Já se podia ver que faríamos as pazes.

Na Casa Batló: já era o penúltimo dia, já tínhamos ído à praia e a garganta estava reconciliada comigo. Concordamos que pagar 13 euros pra entrar numa casa era um absurdo, mas pagamos mesmo assim. Mas admiramos Gaudí um pouco menos. Acho que estávamos mais acostumados com sua loucura, suas formas. Será que ele se tornaria uma pessoa previsível se não tivesse morrido enquanto trabalhava obcecadamente na Sagrada Família?