BR-230
Qualquer pessoa desaviada pode pensar que a BR-230 é apenas uma rodovia que corta a Paraíba de leste à oeste; estas pessoas, em sua distracão, acham que ela é apenas uma entre milhares de rodovias no mundo. Nada mais longe da verdade. A BR-230 é a única rodovia do mundo.
Quando estava voltando de Berlin para Malmö, em outubro passado, notei pela primeira vez, quando cruzava a pequenina Dinamarca, que estava na BR-230 mais uma vez. Estava chegando perto de casa e comecei a notar que as luzes rápidas ao lado da estrada eram aqueles sítios sertanejos, tristes e isolados, onde mora um gente esquecida, que quase não existe.
Quando cortava a gigantesca Rússia, entre São Petersburgo e Moscou, vi as mesmas luzes iluminando estas ilhas de gente no meio do nada. Nevava muito, mas a vegetacão seca não deixava dúvida: eu estava cortando o sertão. Tentei dormir, mas os buracos da estrada naquele trecho russo da BR me acordaram. O filme do ônibus (Pânico 4) também não ajudava. Essa Viacão Transparaíba nunca melhora o gosto! E sempre liga o àr-condicionado frio demais! Melhor vestir o casaco, luvas e cachecol, decidi. Mais à frente, um policial russo parou o ônibus e pediu proprina. Era a “Operacão manzuá”, nos seus derradeiros tempos.
Minha vida está intrinsicamente ligada à BR-230. Na infância, eu cruzava no banco de trás do carro os trechos Patos-Jatobá e Jatobá-Sousa; No início da adolescência, às vezes no banco da frente, foi a vez do trecho Campina Grande-Patos; Durante a universidade, ganhei o mundo (um pouquinho) e fiz centenas de vezes, sozinho, o trecho Campina Grande-João Pessoa.
Agora, nestes trechos russos, dinamarqueses, alemães, suecos e finlandeses, as lembrancas afloram. Lembrancas de sair de casa, de despedidas em deprimente tardes de domingo ou insolentes manhãs de segunda.
Mas há também lembrancas de chegadas muito aguardadas, de reencontros com abracos apertados, mãos estendidas pra dar a bencão, sorrisos de felicidade sincera, pratos favoritos saindo do forno, impressões de que estou mais gordo, mais magro, sempre bonito.
Para mim, toda estrada é a BR-230, partindo de Cabedelo rumo ao infinito.
Quando estava voltando de Berlin para Malmö, em outubro passado, notei pela primeira vez, quando cruzava a pequenina Dinamarca, que estava na BR-230 mais uma vez. Estava chegando perto de casa e comecei a notar que as luzes rápidas ao lado da estrada eram aqueles sítios sertanejos, tristes e isolados, onde mora um gente esquecida, que quase não existe.
Quando cortava a gigantesca Rússia, entre São Petersburgo e Moscou, vi as mesmas luzes iluminando estas ilhas de gente no meio do nada. Nevava muito, mas a vegetacão seca não deixava dúvida: eu estava cortando o sertão. Tentei dormir, mas os buracos da estrada naquele trecho russo da BR me acordaram. O filme do ônibus (Pânico 4) também não ajudava. Essa Viacão Transparaíba nunca melhora o gosto! E sempre liga o àr-condicionado frio demais! Melhor vestir o casaco, luvas e cachecol, decidi. Mais à frente, um policial russo parou o ônibus e pediu proprina. Era a “Operacão manzuá”, nos seus derradeiros tempos.
Minha vida está intrinsicamente ligada à BR-230. Na infância, eu cruzava no banco de trás do carro os trechos Patos-Jatobá e Jatobá-Sousa; No início da adolescência, às vezes no banco da frente, foi a vez do trecho Campina Grande-Patos; Durante a universidade, ganhei o mundo (um pouquinho) e fiz centenas de vezes, sozinho, o trecho Campina Grande-João Pessoa.
Agora, nestes trechos russos, dinamarqueses, alemães, suecos e finlandeses, as lembrancas afloram. Lembrancas de sair de casa, de despedidas em deprimente tardes de domingo ou insolentes manhãs de segunda.
Mas há também lembrancas de chegadas muito aguardadas, de reencontros com abracos apertados, mãos estendidas pra dar a bencão, sorrisos de felicidade sincera, pratos favoritos saindo do forno, impressões de que estou mais gordo, mais magro, sempre bonito.
Para mim, toda estrada é a BR-230, partindo de Cabedelo rumo ao infinito.
1 Comments:
Gostei muito desse post. Mto bonito.
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